quarta-feira, 9 de setembro de 2009
sábado, 21 de fevereiro de 2009
cap 8: 8 de janeiro - Praia - Miraflores
Dia seguinte acordei umas seis da manhã. Não havia dormido direito, talvez pela agitação da viagem. Resolvi levantar da cama e ir à pé até a praia, distante algumas ruas do hostel. Câmera na bolsa, camiseta nova, sai para a rua e comecei a caminhar. Não estava frio, mas uma brisa fresca vinha da direção do mar. O céu estava branco e coberto. Seria prenúncio de chuva ou seria apenas uma névoa? Fui caminhando pelo canteiro central da José Pardo. De vez em quando havia uma rotatória grande, quase uma praça, no caminho. Em uma delas havia um chafariz no meio e uma série de mastros com bandeiras de vários países. Algumas outras pessoas caminhavam ou levavem o cachorro para passear.
Na noite anterior, após o passeio pelo centro histórico de Lima, a Plaza de Armas, o Parque da Muralha, a Basílica Menor de São Francisco e as catacumbas, ainda continuei meu passeio andando a esmo pela cidade. Meu objetivo, claro, era voltar para a Avenida Arequipa, com seu trânsito caótico, buzinas e ônibus com cobradores gritando o caminho por todo o trajeto. Felizmente eu tenho um bom senso de direção e consegui retraçar minha rota até a avenida, onde embarquei em outro ônibus para Miraflores. Estava cansado de andar mas satisfeito com o dia. Não havia esperado muito de Lima. Para mim era apenas o primeiro ponto de uma viagem que tinha como objetivo Machu Picchu. Mas uma coisa que aprendi na viagem, e que foi muito bom, é a velha máxima de que, geralmente, não é o objetivo que importa, mas o caminho em si. Lima podia ser barulhenta, poluída e "arcaica", mas era uma cidade vibrante e viva.
Cheguei em Miraflores perto das oito da noite. Desci perto daquela rotatória em frente ao McDonald´s, e só havia o esqueleto metálico daquela árvore de natal que havia visto de tarde. Na esquina da Arequipa com a José Pardo havia um shopping alto, uns seis andares, e resolvi entrar para dar uma olhada. Engraçado como, ao cruzar as portas para dentro da loja, sai de Lima para entrar naquela espécie de mundo paralelo que são os shoppings no mundo todo. As pessoas são diferentes, mas até o cheiro (uma mistura de couro, tecido, plástico e ar condicionado) é o mesmo. Se fechasse os olhos podia me imaginar de volta a algum shopping no Brasil. Era um lugar mais voltado à venda de roupas e calçados, em praticamente todos os andares. Confesso minha ignorância geral com relação a preços destes artigos no Brasil, mas soube que eles estavam relativamente baratos por lá. Havia também um andar destinado a aparelhos eletrônocos, celulares, televisões de tela plana, entre outras coisas, com preços que não muito diferentes dos daqui. Ao subir a última escada rolante, fui dar no estacionamento do shopping, onde descobri um fato interessante: ao contrário da grande maioria dos carros que havia visto nas ruas, em geral velhos, usados e de marcas orientais como Nissan e Toyota, os carros que encontrei no shopping eram mais sofisticados. Estava claramente em um lugar frequentado por uma população mais rica da cidade, com seus Mercedes, Renault, VW e GM.
Notei também esta diferença ao caminhar de volta ao hostel "Nômade" pela José Pardo. Miraflores é realmente outra cidade dentro da velha Lima. Nada de ruas estreitas, aglomerações e carros antigos. Ao chegar ao Nômade, tomei um banho (chuveiro quente, tudo certo) e troquei de roupa. Até pensei em voltar até o caminho todo até o Parque Centrale procurar algum restaurante ou barzinho, mas estava cansado. Pelo horário brasileiro já era mais de meia noite, então resolvi procurar algum lugar para comer ali por perto mesmo. Encontrei um restaurante na esquina da J. Pardo, na segunda rotatória em direção à praia. Comi um baby beef muito bom, com fritas, salada e uma Coca-Cola, pelo equivalente a uns 25 reais. Uma coisa que me surpreendi é que a conta veio exatamente com os valores corretos, sem "sacanagem". Digo isso porque, no Brasil, acho comum ter alguma surpresa desagradável ao receber a conta nos restaurantes. É alguma coisa que marcaram errado, ou então o preço exorbitante cobrado pelo refrigerante ou algo assim. Lá eu paguei extamente o que pedi e não havia sequer os 10% de gorjeta na conta. Não sei qual o costume por lá, mas deixei umas moedas e sai para a noite tranquila de Lima, de volta para o hostel. Cansado, fui direto para a cama, depois de uma "zapeada" pelos canais da TV (a cabo, sem programação local).
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
cap 7: Parque da Muralha - Catacumbas São Francisco - Lima
Entrei pela rua lateral do Palácio do Governo e fui até o final, onde havia uma antiga estação de trem em reformas. Virando à direita, outra rua estreita, com prédios coloridos e sacadas. Ao fundo, as torres de uma outra igreja, de cor amarela. Fui chegando perto dela. Ela era cercada por um muro baixo, com grades, e havia um páteo e um prédio lateral em que estava escrito "Santuário Nossa Senhora de la Soledad". Um homem com uma filmadora me chamou a atenção. Ele estava gravando um grupo de estudantes, todas garotas, que faziam pose e sorriam para a câmera. Me lembrei dos meus tempos de câmera de casamentos e festas. Fiquei tentado a conhecer a igreja, mas, à esquerda, lá longe, a montanha me chamava, e fui em sua direção. Fui seguindo até o final da rua e havia um muro de pedra com os dizeres "Parque de La Muralha".
Era um jardim, na verdade, e havia alguns casais namorando e estudantes passeando. Ao longe, o tal monte se revelou finalmente. Havia centenas de casas coloridas em sua lateral, subindo quase até a metade de sua altura. Era uma vista bastante bonita. Perguntei a um guarda que montanha era aquela e ele, de modo um pouco grosseiro, me disse que não sabia. Dia seguinte eu descobriria se tratar do "Cerro San Cristóbal" mas, por enquanto, ainda era um enigma no horizonte. O calor em Lima era quase insuportável, e confesso que não estava esperando por isso. Comprei uma garrafa de água em um pequeno restaurante que havia no parque e fui ver o resto do lugar. A tal "muralha" do nome do parque tinha a ver com umas escavações arqueológicas que havia no local. O parque era uma curiosa mistura entre local de diversão para crianças (havia alguns brinquedos infláveis montados, como pula-pula e cama elástica, além de um "trenzinho" que levava crianças para uma volta) e sítio arqueológico. Havia restos de casas do século XVII e trechos de uma antiga muralha. Era um lugar interessante, mas nada de muito excepcional. Tirei várias fotografias do Cerro San Cristóbal, ainda tentando imaginar um meio de subir até o topo, mas não encontrei nada por ali. Resolvi então voltar por onde vim e visitar a tal igreja amarela. Chegando lá descobri se tratar da Igreja e Convento São Francisco. Me lembrei do trajeto do ônibus turístico que havia visto lá em Miraflores, que falava sobre umas "catacumbas de São Francisco", seria aqui? Passei pelo páteo que estava coberto por centenas de pombas. Já havia visto muitas pombas na Plaza de Armas, mas aqui havia realmente centenas delas. Por que tantas?À esquerda da igreja estava o Convento São Francisco, e era possível visitar o local (pagando uma taxa de cinco sóles). Recomendo muito a visita. Infelizmente, era proibido tirar fotos do interior do convento e das catacumbas. Entrei e havia algumas pessoas esperando, mas uma mulher me perguntou se eu entendia inglês e, como disse que sim, ela me encaminhou para um grupo de turistas que havia acabado de sair com um guia. Inglês eu falo, mas confesso que o inglês do guia tinha um sotaque tão carregado que era complicado entender o que ele dizia. O grupo de turistas era formado pelos primeiros ingleses que eu via na viagem (e veria vários depois). O convento era muito bonito, com aquele tradicional páteo interno cercado pelo prédio de dois andares. Visitamos uma sala que continha vários quadros à óleo com motivos religiosos, inclusive um quadro da Santa Ceia que mostrava uma mesa circular, ao contrário do famoso quadro de Leonardo DaVinci. O convento foi construído no século XVII e, segundo o guia, era maior do que o prédio atual. Por todos os lados se viam marcas do barroco e da influência árabe, principalmente nos tetos ricamente decorados. Visitamos também a biblioteca, que continha alguns livros enormes, que foram restaurados e estavam em exposição. A luz natural iluminava o local através de janelas no teto. No grupo havia uma senhora inglesa que, bravamente, ia acompanhando o grupo e, no início, o guia até a esperava, mas aos poucos ele começou a ir mais rápido e a coitada da senhora foi ficando para trás, acompanhada da filha. E então chegou a hora das catacumbas. Me lembrei na hora da minha mãe, claustrofóbica convicta, que chegou a ir a Roma mas não desceu nas catacumbas de lá. Também tenho meu lado claustrofóbico, mas meu outro lado, o de Indiana Jones, falou mais forte e fui descendo com todos pelas tais catacumbas. O guia explicou que elas foram abertas e limpas em 1947. Era uma série de corredores e galerias por debaixo de todo o complexo do convento, e havia esqueletos em vários lugares. O guia disse para prestarmos atenção ao fato de que havia muito mais crânios e ossos grandes, como o fêmur, para serem vistos. Isso se deve ao fato de que os corpos eram depositados ali e cobertos com cal, que dissolvia o corpo e os ossos mais fracos. As catacumbas eram um cemitério, na verdade, e serviram para este fim até o século XIX, quando cemitérios foram inaugurados na cidade. Em alguns corredores se podia ver, através de aberturas no teto, a igreja lá em cima. Eu não tive problemas com as dezenas de crânios que havia por lá. O guia explicou que a disposição dos ossos foi deixada assim pelos arqueólogos e, de fato, havia uma certa "arte" no modo como os ossos foram empilhados; os crânios em um fosso, por exemplo, estavam todos organizados em forma circular.
Saí das catacumbas e do museu às 16:30 da tarde. Gostei muito do passeio e, lá fora, estava uma tarde muito bonita. Descobri então a razão das centenas de pombas na praça: havia umas senhoras vendendo milho em saquinhos para as crianças (e alguns adultos), que se divertiam alimentando os pássaros. O que por aqui geralmente é tratado como um problema de saúde pública, lá é incentivado. Sem dúvida os pombos são portadores de piolhos e algumas doenças, fora a sujeita que causam. Mas, sentado nos degraus em frente à Igreja São Francisco, olhando as crianças correr atrás dos pombos, achei tudo muito bonito. De vez em quando, como que atendendo um sinal coletivo, todas as pombas alçavam voo e comecavam um movimento circular pelo páteo do convento, em rasantes cada vez mais próximas.
Dentro da igreja havia um magnífico altar a São Judas Tadeu, todo de prata. Havia também uma placa comemorativa dizendo que o Papa João XXIII, em 1963, havia elevado a igreja à categoria de Basílica Menor de Lima. Sem dúvida, havia valido o dia.
ps: sim, oficialmente é proibido fotografar as catacumbas, mas no Google você pode ver várias fotos do local.
São Judas Tadeu
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
cap 6: Centro Histórico parte 2 - Lima
O interior da Catedral era bonito, mas bem menos rebuscado do que outras igrejas que vi depois. Uma missa estava sendo celebrada naquele momento, mas apenas uma meia dúzia de senhoras estava assistindo. Fui caminhando e escutando a celebração em espanhol que, do que me lembro dos tempos de criança, era exatamente igual às missas aqui no Brasil. As senhoras começaram a cantar uma música cuja melodia também já havia escutado em igrejas brasileiras. O altar era dourado, mas simples. A luz do sol entrava por uma alta cúpula. Resolvi sair e continuar minha exploração.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
cap 5: 7 de janeiro - Centro Histórico - Lima
(continua)