quarta-feira, 9 de setembro de 2009
sábado, 21 de fevereiro de 2009
cap 8: 8 de janeiro - Praia - Miraflores
De volta ao relato do blog!Dia seguinte acordei umas seis da manhã. Não havia dormido direito, talvez pela agitação da viagem. Resolvi levantar da cama e ir à pé até a praia, distante algumas ruas do hostel. Câmera na bolsa, camiseta nova, sai para a rua e comecei a caminhar. Não estava frio, mas uma brisa fresca vinha da direção do mar. O céu estava branco e coberto. Seria prenúncio de chuva ou seria apenas uma névoa? Fui caminhando pelo canteiro central da José Pardo. De vez em quando havia uma rotatória grande, quase uma praça, no caminho. Em uma delas havia um chafariz no meio e uma série de mastros com bandeiras de vários países. Algumas outras pessoas caminhavam ou levavem o cachorro para passear.
Na noite anterior, após o passeio pelo centro histórico de Lima, a Plaza de Armas, o Parque da Muralha, a Basílica Menor de São Francisco e as catacumbas, ainda continuei meu passeio andando a esmo pela cidade. Meu objetivo, claro, era voltar para a Avenida Arequipa, com seu trânsito caótico, buzinas e ônibus com cobradores gritando o caminho por todo o trajeto. Felizmente eu tenho um bom senso de direção e consegui retraçar minha rota até a avenida, onde embarquei em outro ônibus para Miraflores. Estava cansado de andar mas satisfeito com o dia. Não havia esperado muito de Lima. Para mim era apenas o primeiro ponto de uma viagem que tinha como objetivo Machu Picchu. Mas uma coisa que aprendi na viagem, e que foi muito bom, é a velha máxima de que, geralmente, não é o objetivo que importa, mas o caminho em si. Lima podia ser barulhenta, poluída e "arcaica", mas era uma cidade vibrante e viva.
Cheguei em Miraflores perto das oito da noite. Desci perto daquela rotatória em frente ao McDonald´s, e só havia o esqueleto metálico daquela árvore de natal que havia visto de tarde. Na esquina da Arequipa com a José Pardo havia um shopping alto, uns seis andares, e resolvi entrar para dar uma olhada. Engraçado como, ao cruzar as portas para dentro da loja, sai de Lima para entrar naquela espécie de mundo paralelo que são os shoppings no mundo todo. As pessoas são diferentes, mas até o cheiro (uma mistura de couro, tecido, plástico e ar condicionado) é o mesmo. Se fechasse os olhos podia me imaginar de volta a algum shopping no Brasil. Era um lugar mais voltado à venda de roupas e calçados, em praticamente todos os andares. Confesso minha ignorância geral com relação a preços destes artigos no Brasil, mas soube que eles estavam relativamente baratos por lá. Havia também um andar destinado a aparelhos eletrônocos, celulares, televisões de tela plana, entre outras coisas, com preços que não muito diferentes dos daqui. Ao subir a última escada rolante, fui dar no estacionamento do shopping, onde descobri um fato interessante: ao contrário da grande maioria dos carros que havia visto nas ruas, em geral velhos, usados e de marcas orientais como Nissan e Toyota, os carros que encontrei no shopping eram mais sofisticados. Estava claramente em um lugar frequentado por uma população mais rica da cidade, com seus Mercedes, Renault, VW e GM.
Notei também esta diferença ao caminhar de volta ao hostel "Nômade" pela José Pardo. Miraflores é realmente outra cidade dentro da velha Lima. Nada de ruas estreitas, aglomerações e carros antigos. Ao chegar ao Nômade, tomei um banho (chuveiro quente, tudo certo) e troquei de roupa. Até pensei em voltar até o caminho todo até o Parque Centrale procurar algum restaurante ou barzinho, mas estava cansado. Pelo horário brasileiro já era mais de meia noite, então resolvi procurar algum lugar para comer ali por perto mesmo. Encontrei um restaurante na esquina da J. Pardo, na segunda rotatória em direção à praia. Comi um baby beef muito bom, com fritas, salada e uma Coca-Cola, pelo equivalente a uns 25 reais. Uma coisa que me surpreendi é que a conta veio exatamente com os valores corretos, sem "sacanagem". Digo isso porque, no Brasil, acho comum ter alguma surpresa desagradável ao receber a conta nos restaurantes. É alguma coisa que marcaram errado, ou então o preço exorbitante cobrado pelo refrigerante ou algo assim. Lá eu paguei extamente o que pedi e não havia sequer os 10% de gorjeta na conta. Não sei qual o costume por lá, mas deixei umas moedas e sai para a noite tranquila de Lima, de volta para o hostel. Cansado, fui direto para a cama, depois de uma "zapeada" pelos canais da TV (a cabo, sem programação local).
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
cap 7: Parque da Muralha - Catacumbas São Francisco - Lima
Há algo de estranho em se viajar de avião. Lá estava eu, andando pelas ruas do Centro Histórico de Lima, no Perú, e naquela mesma manhã havia acordado em Vinhedo, Estado de São Paulo, Brasil. É muito rápido e o corpo e a mente tentam compensar de alguma maneira. Para mim, o Brasil era "ontem". Fazia poucas horas que estava viajando de verdade mas já parecia que havia partido há muito tempo. O centro de Lima, com seus prédios baixos, estilo colonial, lembram muito algumas cidades históricas brasileiras. Não chega a parecer antigo como Paraty, por exemplo, mas as ruas me fizeram lembrar um pouco, talvez, Embu das Artes. Fui andando na direção geral daquele monte que havia visto da praça, alto, com uma cruz no topo e aquela bandeira pintada na lateral. Estaria longe? Será que dava pra subir?Entrei pela rua lateral do Palácio do Governo e fui até o final, onde havia uma antiga estação de trem em reformas. Virando à direita, outra rua estreita, com prédios coloridos e sacadas. Ao fundo, as torres de uma outra igreja, de cor amarela. Fui chegando perto dela. Ela era cercada por um muro baixo, com grades, e havia um páteo e um prédio lateral em que estava escrito "Santuário Nossa Senhora de la Soledad". Um homem com uma filmadora me chamou a atenção. Ele estava gravando um grupo de estudantes, todas garotas, que faziam pose e sorriam para a câmera. Me lembrei dos meus tempos de câmera de casamentos e festas. Fiquei tentado a conhecer a igreja, mas, à esquerda, lá longe, a montanha me chamava, e fui em sua direção. Fui seguindo até o final da rua e havia um muro de pedra com os dizeres "Parque de La Muralha".
Era um lugar interessante, mas nada de muito excepcional. Tirei várias fotografias do Cerro San Cristóbal, ainda tentando imaginar um meio de subir até o topo, mas não encontrei nada por ali. Resolvi então voltar por onde vim e visitar a tal igreja amarela. Chegando lá descobri se tratar da Igreja e Convento São Francisco. Me lembrei do trajeto do ônibus turístico que havia visto lá em Miraflores, que falava sobre umas "catacumbas de São Francisco", seria aqui? Passei pelo páteo que estava coberto por centenas de pombas. Já havia visto muitas pombas na Plaza de Armas, mas aqui havia realmente centenas delas. Por que tantas?
À esquerda da igreja estava o Convento São Francisco, e era possível visitar o local (pagando uma taxa de cinco sóles). Recomendo muito a visita. Infelizmente, era proibido tirar fotos do interior do convento e das catacumbas. Entrei e havia algumas pessoas esperando, mas uma mulher me perguntou se eu entendia inglês e, como disse que sim, ela me encaminhou para um grupo de turistas que havia acabado de sair com um guia. Inglês eu falo, mas confesso que o inglês do guia tinha um sotaque tão carregado que era complicado entender o que ele dizia. O grupo de turistas era formado pelos primeiros ingleses que eu via na viagem (e veria vários depois). O convento era muito bonito, com aquele tradicional páteo interno cercado pelo prédio de dois andares. Visitamos uma sala que continha vários quadros à óleo com motivos religiosos, inclusive um quadro da Santa Ceia que mostrava uma mesa circular, ao contrário do famoso quadro de Leonardo DaVinci. O convento foi construído no século XVII e, segundo o guia, era maior do que o prédio atual. Por todos os lados se viam marcas do barroco e da influência árabe, principalmente nos tetos ricamente decorados. Visitamos também a biblioteca, que continha alguns livros enormes, que foram restaurados e estavam em exposição. A luz natural iluminava o local através de janelas no teto. No grupo havia uma senhora inglesa que, bravamente, ia acompanhando o grupo e, no início, o guia até a esperava, mas aos poucos ele começou a ir mais rápido e a coitada da senhora foi ficando para trás, acompanhada da filha. E então chegou a hora das catacumbas. Me lembrei na hora da minha mãe, claustrofóbica convicta, que chegou a ir a Roma mas não desceu nas catacumbas de lá. Também tenho meu lado claustrofóbico, mas meu outro lado, o de Indiana Jones, falou mais forte e fui descendo com todos pelas tais catacumbas. O guia explicou que elas foram abertas e limpas em 1947. Era uma série de corredores e galerias por debaixo de todo o complexo do convento, e havia esqueletos em vários lugares. O guia disse para prestarmos atenção ao fato de que havia muito mais crânios e ossos grandes, como o fêmur, para serem vistos. Isso se deve ao fato de que os corpos eram depositados ali e cobertos com cal, que dissolvia o corpo e os ossos mais fracos. As catacumbas eram um cemitério, na verdade, e serviram para este fim até o século XIX, quando cemitérios foram inaugurados na cidade. Em alguns corredores se podia ver, através de aberturas no teto, a igreja lá em cima. Eu não tive problemas com as dezenas de crânios que havia por lá. O guia explicou que a disposição dos ossos foi deixada assim pelos arqueólogos e, de fato, havia uma certa "arte" no modo como os ossos foram empilhados; os crânios em um fosso, por exemplo, estavam todos organizados em forma circular.
Saí das catacumbas e do museu às 16:30 da tarde. Gostei muito do passeio e, lá fora, estava uma tarde muito bonita. Descobri então a razão das centenas de pombas na praça: havia umas senhoras vendendo milho em saquinhos para as crianças (e alguns adultos), que se divertiam alimentando os pássaros. O que por aqui geralmente é tratado como um problema de saúde pública, lá é incentivado. Sem dúvida os pombos são portadores de piolhos e algumas doenças, fora a sujeita que causam. Mas, sentado nos degraus em frente à Igreja São Francisco, olhando as crianças correr atrás dos pombos, achei tudo muito bonito. De vez em quando, como que atendendo um sinal coletivo, todas as pombas alçavam voo e comecavam um movimento circular pelo páteo do convento, em rasantes cada vez mais próximas.
Dentro da igreja havia um magnífico altar a São Judas Tadeu, todo de prata. Havia também uma placa comemorativa dizendo que o Papa João XXIII, em 1963, havia elevado a igreja à categoria de Basílica Menor de Lima. Sem dúvida, havia valido o dia.
ps: sim, oficialmente é proibido fotografar as catacumbas, mas no Google você pode ver várias fotos do local.

São Judas Tadeu
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
cap 6: Centro Histórico parte 2 - Lima
O Centro Histórico de Lima foi considerado pela Unesco como Patrimônico Cultural da Humanidade em 1988. De acordo com a Wikipedia, a cidade foi fundada em 18 de janeiro de 1535 pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro. O Centro Histórico é formado pela "Plaza de Armas", a Catedral de Lima, o Palácio do Governo e uma série de outros prédios e lugares circundantes. Havia uma "eletricidade" interessante no ar, uma mistura de antiguidade e tradição com modernidade que me pareceu interessante. Mas não era uma modernidade "século XXI". Os ônibus antigos, os táxis e os prédios davam à paisagem um ar ainda de século XX, uma sensação de "deja vú" engraçada.
Em alguns prédios há umas sacadas muito interessantes nas janelas. Elas são de madeira e fechadas como uma caixa, parecendo por vezes um vagão de trêm pendurado para fora da casa. Segundo escutei de um guia no dia seguinte (aguardem a história), estas sacadas eram feitas deste jeito para que as "senhoras" peruanas de antigamente pudessem ver sem serem vistas.O interior da Catedral era bonito, mas bem menos rebuscado do que outras igrejas que vi depois. Uma missa estava sendo celebrada naquele momento, mas apenas uma meia dúzia de senhoras estava assistindo. Fui caminhando e escutando a celebração em espanhol que, do que me lembro dos tempos de criança, era exatamente igual às missas aqui no Brasil. As senhoras começaram a cantar uma música cuja melodia também já havia escutado em igrejas brasileiras. O altar era dourado, mas simples. A luz do sol entrava por uma alta cúpula. Resolvi sair e continuar minha exploração.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
cap 5: 7 de janeiro - Centro Histórico - Lima
"TODA AREQUIPA! TODA AREQUIPA! TODA AREQUIPA!", gritava, a todos pulmões, o cobrador do ônibus. Em Lima os ônibus parecem peças de museu, correndo pelas ruas para cima e para baixo com suas cores fortes, seus motoristas malucos e cobradores que ficam em pé, na porta, gritando o itinerário e praticamente puxando os passageiros para dentro. Parece as lotações que, ultimamente, se tornaram comuns nas grandes cidades brasileiras. "Arequipa", que o cobrador gritava sem parar, é o nome da grande avenida em que estávamos, a caminho do centro da cidade. Eu, na cara e na coragem, dispensei o ônibus turístico e os táxis e resolvi conhecer a cidade com o "povão", nos ônibus de linha mesmo. Passei o endereço que ia (Rua Emancipación), me sentei, cruzei os dedos, esperando que estivesse indo para o lugar certo. Mas, sinceramente, a viagem estava tão divertida e "exótica" que já estava valendo a pena.
Como já disse, mas repito, o trânsito era absolutamente maluco. Os motoristas de ônibus ficam disputando quem chega primeiro no próximo ponto, ficam em fila dupla, buzinam, reclamam, xingam, tudo isso enquanto o cobrador fica controlando a porta, a cobrança dos bilhetes e gritando o destino. De vez em quando eu dava uma olhada para o cobrador, que respondia: "Falta, falta!", e algo que deveria querer dizer "te aviso quando tiver que descer". Enquanto isso eu ia olhando a paisagem, o povo nas calçadas, alunos saindo da escola, lojas, igrejas, vários parques. Lá pelas tantas entrou um pedinte, com exatamente o mesmo discurso que já havia escutado de tantos aqui no Brasil, dizendo que tem que comprar algum remédio, a situação está difícil e eles precisam de uma contribuição voluntária dos passageiros. Os carros nas ruas, estranhamente, pareciam todos ter passado um pouco da data de validade e, salvo poucas excessões, eram de marcas japonesas como Toyota ou Nissan.
Finalmente, depois de uns vinte minutos chacoalhando no ônibus, sob o olhar dos outros passageiros (era o único turista a "bordo", sem dúvida), o cobrador me fez um sinal, me apontou uma rua e disse "Emancipación!". Soltei um "gracias!" e lá fui eu. Parecia que estava em algum campo de batalha. A avenida estava em reforma, com grandes montes de terra no meio da rua, e os pedestres se espremiam em uma calçada estreita. Seria este o "centro histórico" de Lima? Fui andando por entre as pessoas, passando por um monte de pequenas lojas que vendiam de tudo, sapatos, relógios, materiais eletrônicos... me senti na própria 25 de março, em São Paulo. Havia um guarda em uma esquina, na frente de um Banco, e perguntei sobre o Centro Histórico. Ele respondeu "Sim, sim...é aqui". Quando já estava para me desesperar, ele
apontou para uma rua e disse que a "praça" ficava naquela direção. Menos mal, lá fui eu na direção indicada. Cheguei então à "Plaza de Armas" de Lima. O nome "plaza de armas" é usado para designar a praça principal das cidades, onde geralmente fica a igreja principal e os prédios do governo. Cheguei a uma praça grande, cercada por ruas largas por onde os carros circulavam antes de mergulhar novamente nas ruas estreitas ao redor. Para chegar à praça, passei por duas grandes construções imponentes, de cor amarela, da prefeitura de Lima. A praça em si tinha um chafariz no meio, palmeiras, vários canteiros floridos e a decoração do Natal, que ainda não havia sido retirada. À minha frente, a grande Catedral de Lima. À esquerda, o Palácio do Governo. A Catedral tem duas torres altas, pintadas de cinza claro, e me pareceram ter sido restauradas recentemente. Entre as torres, a fachada da igreja aparentava mais idade, com três grandes portas de madeira. Os relógios marcavam duas e meia da tarde.
(continua)
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
cap 4: 7 de janeiro - Miraflores - Lima - Perú
Pois é, após ter sido "assaltado" pelo taxista e me instalado no hostel "Nômade Backbackers", na esquina da "Torre Tagle" com a rotatória, resolvi ir explorar Lima. Como quase tudo nesta viagem, não tinha um roteiro muito definido. Parei na recepção do Nômade para explorar uns panfletos e uns mapinhas que havia por lá e o recepcionista perguntou para onde eu queria ir. "Para o centro histórico", chutei eu. E, velhaco com a história do táxi (que, na verdade, são bem baratos em Lima), perguntei se tinha como ir de ônibus. O rapaz disse que o ônibus custava apenas 1,50 sol e que deveria seguir a "José Pardo" até um McDonald´s, onde encontraria outra rotatória. Ali deveria pegar um "bus" até a "Emancipacion". A "José Pardo" é a avenida da foto. Muito bonita, com ruas largas e uma "ilha" arborizada no meio onde os pedestres podem caminhar. Eram nove quadras até o tal McDonald´s, mas eu gosto de andar e era um bom modo de sentir o "clima" do lugar.
Andando com meu passo normalmente rápido, em uns 15 minutos cheguei à tal rotatória, com o McDonald´s na esquina. Ali o trânsito era intenso, embora não estivesse parado, e foi (além da corrida de táxi do aeroporto), minha apresentação à loucura do trânsito da cidade. Os ônibus me chamaram logo a atenção. Pareciam (e provavelmente eram) do século passado. Muito coloridos, com várias faixas nas cores primárias. Na lateral, vários nomes pintados à mão que, descobri depois, eram os nomes das ruas por onde o ônibus iria trafegar. E todo mundo buzinando constantemente.
Na rotatória, funcionários da prefeitura tiravam os enfeites de uma grande árvore de natal. Resolvi explorar as imediações. Além do McDonald´s, havia várias outras franquias internacionais de comida por lá. Fui virando a esquina, à direita, e encontrei vários restaurantes, com muita gente sentada às mesas de frente para a calçada. Já eram por volta das 13 horas (quatro da tarde no Brasil) e eu ainda não havia almoçado. Até olhei alguns cardápios expostos nos restaurantes, mas não tinha ainda noção de quanto valia o dinheiro local. Um prato de 30 sóles era caro ou barato? Ai resolvi usar a cotação internacional do Big Mac. E confesso que, apesar de sentir certa vergonha por não experimentar logo a comida local, resolvi ir pelo caminho seguro e entrei no McDonald´s, onde pedi o mesmo que sempre como no Brasil, versão peruana: um "Cuarto de Libra com Queso", Coca-Cola e fritas. Lamentável, reconheço, mas a fome bateu mais forte. O preço do "combo" foi de 10,50 sóles (equivalente a três dólares e pouco, mais barato do que no Brasil). E é impressionante como o McDonald´s é praticamente igual no mundo todo (já fui nos EUA, Japão, Tailândia e Argentina).
Saindo do Mac, com a fome saciada (ou aquela sensação de estômago cheio que o fast food proporciona) fui até uma grande praça que é o "Parque Central de Miraflores". Era bonito, bastante verde, com canteiros coloridos de flores. Ao fundo, havia a primeira das dezenas de igrejas que veria nesta viagem: a "Iglesia Medalha Milagrosa", que estava fechada. Aliás, isso seria uma constante também na viagem, não sei como funcionam os horários das igrejas no Perú. Ao lado da igreja há o "Parque Kennedy", onde se encontram vários hostels bons para se hospedar, e vi estacionado um grande ônibus turístico vermelho, daqueles em que o andar de cima é aberto, com poltronas para os turistas observarem a cidade. Fui até uma cabine onde se vendiam bilhetes e soube que havia um passeio de três horas pela cidade, incluindo visita a umas tais "catacumbas de São Francisco". Mas não estava com vontade de fazer programa de turista. Queria explorar a cidade por conta própria e, na cara e na coragem, fui até a avenida para pegar um ônibus comum para o Centro Histórico de Lima.domingo, 1 de fevereiro de 2009
cap 3: 7 de janeiro - Lima - Peru

Enquanto isso, ele pegou uma avenida que seguia junto à praia, que me mostrou, sorridente. Para quem é do Brasil, confesso que o cenário estava longe das praias brasileiras. À esquerda do carro, barrancos enormes. À direita, um mar cinza escuro ia dar em uma praia pedregosa. O morotista pegou uma esquerda, subiu o "barranco" e me apontou uma região com ruas largas e grandes prédios.sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
cap 2: 7 de janeiro - Chegando em Lima - Perú
Fazia exatamente dez anos e um mês que não entrava em um avião. A última vez havia sido em dezembro de 1998, quando voltei do Japão em um longo voo de mais de 32 horas (Tokyo, Seattle, Miami, São Paulo). Eu havia morado lá por quase um ano, trabalhando em um hotel. Qualquer dia, talvez, eu conte aquela viagem. Só sei que enquanto esperava pelo voo TAM JJ 8066 no portão de embarque número 2 em Guarulhos, confesso que estava um pouco nervoso. Aviões são ótimos meios de transportes, comparavelmente muito mais seguros do que ônibus e carros, mas...
Meu nervosismo era infundado. Sim, é meio assustador quando a aeronave pára no início da pista e parte, como um carro de "dragster", a trezentos quilômetros por hora. Você fica olhando pela janelinha a pista passar, passar, passar....e nada do avião subir, aparentemente até o último metro possível, quando as 160 mil toneladas do A320 finalmente se levantam do solo e começam sua jornada pela atmosfera. E então é aquele curioso espetáculo de cruzar as nuvens e ver o mundo lá de cima. Nessa era de Google Maps e Google Earth, não deixa de ser engraçado perceber que nossa percebção de mundo mudou; já não é mais assim tão estranho ver o mundo lá embaixo. De qualquer forma, o tamanho descomunal da cidade de São Paulo impressiona, não importa a altitude em que se esteja. O voo partiu por volta das 8:30 da manhã de Cumbica e estava programado para chegar às 10:30 da manhã, horário local, no Perú. Só que há três horas de diferença (para menos) entre o horário de Lima e o de Brasília, de modo que a viagem, na verdade, teria duração de aproximadamente cinco horas.
Grande parte deste tempo eu passei, qual criança, de olho na paisagem lá fora. É verdade que chega uma hora que a sucessão de campos verdes, entrecortados por estradas ou rios fica cansativa. O caso é que, após acordar de uma cochilada rápida, tudo havia mudado lá fora. A paisagem verde foi substituída por tons de cobre, marrom e areia. Claramente já não voava sobre o Brasil. A bem da verdade, parecia mais que estava sobre o planeta Marte! Era mais provável que sobrevoasse a parte oeste da Bolívia ou mesmo o Perú. Por todo o avião ouvia rumores e comentários entusiasmados dos outros passageiros. Até que o avião chegou ao Pacífico, virou à direita e começou a subir a costa, em direção de Lima. Assim, do meu lado do avião podia ver a paisagem "marciana", enquanto do lado esquerdo os passageiros viam o azul do mar. Este contraste entre água e terra seca eu veria novamente alguns dias mais tarde, quando parti de Lima.cap 1: Antes de partir
Seis e cinquenta da manhã. Cumbica, Guarulhos. Havia acordado às quatro da manhã, em Vinhedo, para ligar para a Viação Caprioli, em Campinas, para avisar que eu iria pegar o ônibus das quatro e meia da manhã para Cumbica. Bagagem em punho, meu pai me deu uma carona até o posto gasolina do Lago Azul, na Anhanguera, para esperar pelo ônibus. Ele chegou quase cinco da manhã, cheio, e lá fui eu para a primeira etapa da minha viagem. Viagem que, por pouco, não aconteceu.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Prólogo: Felicidade compartilhada, ou "O que é este blog?"
Olá. Meu nome é João Solimeo, sou editor de imagens e trabalho na PUC-Campinas. Basicamente meu trabalho consiste em editar matérias e telejornais para os alunos de Jornalismo, comerciais para Publicidade, institucionais para Relações Públicas, etc.O que é o "15 Dias pelo Perú e Bolívia"? Recentemente voltei da viagem descrita no título. Foi minha primeira viagem sozinho pela América do Sul. Uma viagem que começou como uma idéia na cabeça anos atrás: "Um dia eu vou à Machu Picchu". No final de 2008, após um ano cansativo mas proveitoso no trabalho e algumas definições na minha vida pessoal, resolvi pôr em prática o sonho e partir para o Perú. A princípio seria uma viagem mais no estilo "mochileiro", feita inteiramente por via terrestre, mas acabou contando com uma parte aérea. O que não significa que não tenha passado por aventuras. Fui sozinho e sem um roteiro muito definido. Não houve auxílio de agências de viagem ou de intermediários. Na minha mochila (pequena), havia apenas duas calças jeans, cinco camisetas, sete cuecas e algumas meias. Levava dinheiro em uma carteira amarrada ao cinto da calça do lado esquerdo e, em uma bolsa masculina pendurada de atravessado no peito, minha fiel Cybershot H-10, três baterias, quatro cartões de memória (num total de 8 Gb de espaço para fotos), um caderno para anotações e uma caneta. E era isso.
Como vai ser organizado este blog? Sinceramente, ainda não sei. Só sei que tenho vontade de dividir com vocês minhas experiências nestes incríveis 15 dias de viagem. Sei também que tirei aproximadamente 2.700 fotos, algumas das quais serão usadas para ilustrar este blog. Aviso também que gosto MUITO de escrever, e gosto de escrever MUITO. Para quem já conhece minhas críticas de cinema, isso não é novidade. Sem dúvida, este é um dos motivos para me fazer voltar à faculdade, aos quase 37 anos de vida, para estudar jornalismo. "A felicidade só é real se for compartilhada", escreveu Alexander Supertramp no filme "Na Natureza Selvagem". Um dos possíveis nomes para este blog, aliás, era exatamente este: felicidade compartilhada.
Compartilhem, assim, meu relato, e façam bom proveito.



