
Dia seguinte acordei umas seis da manhã. Não havia dormido direito, talvez pela agitação da viagem. Resolvi levantar da cama e ir à pé até a praia, distante algumas ruas do hostel. Câmera na bolsa, camiseta nova, sai para a rua e comecei a caminhar. Não estava frio, mas uma brisa fresca vinha da direção do mar. O céu estava branco e coberto. Seria prenúncio de chuva ou seria apenas uma névoa? Fui caminhando pelo canteiro central da José Pardo. De vez em quando havia uma rotatória grande, quase uma praça, no caminho. Em uma delas havia um chafariz no meio e uma série de mastros com bandeiras de vários países. Algumas outras pessoas caminhavam ou levavem o cachorro para passear.
Na noite anterior, após o passeio pelo centro histórico de Lima, a Plaza de Armas, o Parque da Muralha, a Basílica Menor de São Francisco e as catacumbas, ainda continuei meu passeio andando a esmo pela cidade. Meu objetivo, claro, era voltar para a Avenida Arequipa, com seu trânsito caótico, buzinas e ônibus com cobradores gritando o caminho por todo o trajeto. Felizmente eu tenho um bom senso de direção e consegui retraçar minha rota até a avenida, onde embarquei em outro ônibus para Miraflores. Estava cansado de andar mas satisfeito com o dia. Não havia esperado muito de Lima. Para mim era apenas o primeiro ponto de uma viagem que tinha como objetivo Machu Picchu. Mas uma coisa que aprendi na viagem, e que foi muito bom, é a velha máxima de que, geralmente, não é o objetivo que importa, mas o caminho em si. Lima podia ser barulhenta, poluída e "arcaica", mas era uma cidade vibrante e viva.
Cheguei em Miraflores perto das oito da noite. Desci perto daquela rotatória em frente ao McDonald´s, e só havia o esqueleto metálico daquela árvore de natal que havia visto de tarde. Na esquina da Arequipa com a José Pardo havia um shopping alto, uns seis andares, e resolvi entrar para dar uma olhada. Engraçado como, ao cruzar as portas para dentro da loja, sai de Lima para entrar naquela espécie de mundo paralelo que são os shoppings no mundo todo. As pessoas são diferentes, mas até o cheiro (uma mistura de couro, tecido, plástico e ar condicionado) é o mesmo. Se fechasse os olhos podia me imaginar de volta a algum shopping no Brasil. Era um lugar mais voltado à venda de roupas e calçados, em praticamente todos os andares. Confesso minha ignorância geral com relação a preços destes artigos no Brasil, mas soube que eles estavam relativamente baratos por lá. Havia também um andar destinado a aparelhos eletrônocos, celulares, televisões de tela plana, entre outras coisas, com preços que não muito diferentes dos daqui. Ao subir a última escada rolante, fui dar no estacionamento do shopping, onde descobri um fato interessante: ao contrário da grande maioria dos carros que havia visto nas ruas, em geral velhos, usados e de marcas orientais como Nissan e Toyota, os carros que encontrei no shopping eram mais sofisticados. Estava claramente em um lugar frequentado por uma população mais rica da cidade, com seus Mercedes, Renault, VW e GM.
Notei também esta diferença ao caminhar de volta ao hostel "Nômade" pela José Pardo. Miraflores é realmente outra cidade dentro da velha Lima. Nada de ruas estreitas, aglomerações e carros antigos. Ao chegar ao Nômade, tomei um banho (chuveiro quente, tudo certo) e troquei de roupa. Até pensei em voltar até o caminho todo até o Parque Centrale procurar algum restaurante ou barzinho, mas estava cansado. Pelo horário brasileiro já era mais de meia noite, então resolvi procurar algum lugar para comer ali por perto mesmo. Encontrei um restaurante na esquina da J. Pardo, na segunda rotatória em direção à praia. Comi um baby beef muito bom, com fritas, salada e uma Coca-Cola, pelo equivalente a uns 25 reais. Uma coisa que me surpreendi é que a conta veio exatamente com os valores corretos, sem "sacanagem". Digo isso porque, no Brasil, acho comum ter alguma surpresa desagradável ao receber a conta nos restaurantes. É alguma coisa que marcaram errado, ou então o preço exorbitante cobrado pelo refrigerante ou algo assim. Lá eu paguei extamente o que pedi e não havia sequer os 10% de gorjeta na conta. Não sei qual o costume por lá, mas deixei umas moedas e sai para a noite tranquila de Lima, de volta para o hostel. Cansado, fui direto para a cama, depois de uma "zapeada" pelos canais da TV (a cabo, sem programação local).