terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

cap 5: 7 de janeiro - Centro Histórico - Lima

"TODA AREQUIPA! TODA AREQUIPA! TODA AREQUIPA!", gritava, a todos pulmões, o cobrador do ônibus. Em Lima os ônibus parecem peças de museu, correndo pelas ruas para cima e para baixo com suas cores fortes, seus motoristas malucos e cobradores que ficam em pé, na porta, gritando o itinerário e praticamente puxando os passageiros para dentro. Parece as lotações que, ultimamente, se tornaram comuns nas grandes cidades brasileiras. "Arequipa", que o cobrador gritava sem parar, é o nome da grande avenida em que estávamos, a caminho do centro da cidade. Eu, na cara e na coragem, dispensei o ônibus turístico e os táxis e resolvi conhecer a cidade com o "povão", nos ônibus de linha mesmo. Passei o endereço que ia (Rua Emancipación), me sentei, cruzei os dedos, esperando que estivesse indo para o lugar certo. Mas, sinceramente, a viagem estava tão divertida e "exótica" que já estava valendo a pena.
Como já disse, mas repito, o trânsito era absolutamente maluco. Os motoristas de ônibus ficam disputando quem chega primeiro no próximo ponto, ficam em fila dupla, buzinam, reclamam, xingam, tudo isso enquanto o cobrador fica controlando a porta, a cobrança dos bilhetes e gritando o destino. De vez em quando eu dava uma olhada para o cobrador, que respondia: "Falta, falta!", e algo que deveria querer dizer "te aviso quando tiver que descer". Enquanto isso eu ia olhando a paisagem, o povo nas calçadas, alunos saindo da escola, lojas, igrejas, vários parques. Lá pelas tantas entrou um pedinte, com exatamente o mesmo discurso que já havia escutado de tantos aqui no Brasil, dizendo que tem que comprar algum remédio, a situação está difícil e eles precisam de uma contribuição voluntária dos passageiros. Os carros nas ruas, estranhamente, pareciam todos ter passado um pouco da data de validade e, salvo poucas excessões, eram de marcas japonesas como Toyota ou Nissan.
Finalmente, depois de uns vinte minutos chacoalhando no ônibus, sob o olhar dos outros passageiros (era o único turista a "bordo", sem dúvida), o cobrador me fez um sinal, me apontou uma rua e disse "Emancipación!". Soltei um "gracias!" e lá fui eu. Parecia que estava em algum campo de batalha. A avenida estava em reforma, com grandes montes de terra no meio da rua, e os pedestres se espremiam em uma calçada estreita. Seria este o "centro histórico" de Lima? Fui andando por entre as pessoas, passando por um monte de pequenas lojas que vendiam de tudo, sapatos, relógios, materiais eletrônicos... me senti na própria 25 de março, em São Paulo. Havia um guarda em uma esquina, na frente de um Banco, e perguntei sobre o Centro Histórico. Ele respondeu "Sim, sim...é aqui". Quando já estava para me desesperar, ele apontou para uma rua e disse que a "praça" ficava naquela direção. Menos mal, lá fui eu na direção indicada. Cheguei então à "Plaza de Armas" de Lima. O nome "plaza de armas" é usado para designar a praça principal das cidades, onde geralmente fica a igreja principal e os prédios do governo. Cheguei a uma praça grande, cercada por ruas largas por onde os carros circulavam antes de mergulhar novamente nas ruas estreitas ao redor. Para chegar à praça, passei por duas grandes construções imponentes, de cor amarela, da prefeitura de Lima. A praça em si tinha um chafariz no meio, palmeiras, vários canteiros floridos e a decoração do Natal, que ainda não havia sido retirada. À minha frente, a grande Catedral de Lima. À esquerda, o Palácio do Governo. A Catedral tem duas torres altas, pintadas de cinza claro, e me pareceram ter sido restauradas recentemente. Entre as torres, a fachada da igreja aparentava mais idade, com três grandes portas de madeira. Os relógios marcavam duas e meia da tarde.



(continua)

2 comentários:

Menina de lah disse...

Na tal lotação que vc pegou tocava alguma música?
Porque é nas lotações aqui do brasil que se pode conhecer as mais belas canções musicais populares do país...coisas como sertanojo, pagode dor de cotovelo, música gospel.etc...ahauahau

João Solimeo disse...

Olá! É verdade, quase sempre havia música tocando nessas vans e ônibus. E geralmente música local, um contraste entre faixas ritmadas e outras bem "brega" melosa. Isso quando dava pra escutar alguma coisa acima da barulheira normal da cidade e os gritos do cobrador...