domingo, 1 de fevereiro de 2009

cap 3: 7 de janeiro - Lima - Peru


Pés no chão, depois de cinco horas de viagem de avião de São Paulo, tratei de ir trocar dólares por dinheiro peruano. Antes, logo ao descer do avião, tive que preencher um formulário de entrada no país e passar pela imigração e alfândega. Este seria o verdadeiro teste da questão do passaporte: ele seria necessário ou o RG só serviria? Ao preencher o formulário de entrada já fiquei bem tranquilo, pois havia até uma opção para marcar se você estava viajando com passaporte ou carteira de identidade. Um senhor me atendeu, pegou meu RG, preencheu um papel e me disse:
"Este papel você não pode perder, cuide muito bem dele!". Era a prova de que minha entrada no país havia sido legal. Eu sou terrível para guardar papéis (como veremos em um capítulo mais para frente), então o guardei junto do dinheiro, na carteira. Falando em dinheiro, ainda no aeroporto troquei 400 dólares por "Soles" peruanos. A cotação estava em aproximadamente 3 sóles para cada dólar, o que significa que tinha mil e duzentos sóles no bolso ao sair para o sagão do aeroporto.
E agora? Eu até havia feito uma reserva por e-mail em um hostel que vi em um fórum de mochileiros do orkut, e eles haviam me prometido, também por e-mail, que um táxi estaria me esperando no aeroporto. Havia vários motoristas segurando plaquinhas com nomes de hotéis e de passageiros, mas não vi meu nome, nem do hostel, em lugar algum. Eram 11:26 da manhã, e decidi procurar um outro hotel na "raça". Não conhecia absolutamente nada em Lima, a não ser o nome do bairro "chique" da cidade: Miraflores. E foi então que cometi meu primeiro erro. No Perú, você NUNCA deve entrar em um táxi sem combinar o preço antes. A base de preço que eu tinha era que o hostel onde eu havia feito reserva iria me cobrar 15 dólares pelo serviço de táxi, então eu, ingenuamente, achei que qualquer um que eu pegasse por ali cobraria mais ou menos a mesma coisa. E mais, achei que se eu fosse até a rua e pegasse um diretamente lá fora seria mais barato e tranquilo do que seguir alguns dos motoristas que estavam caçando passageiros lá dentro do aeroporto. Confesso minha estupidez, e que sirva de lição para quem está lendo isso. O caso é que fui lá para a rua, lá fora do sagão do aeroporto, e vi um homem me fazendo sinal.

- Táxi, senhor? - ele perguntou.
Bom, eu tinha que pegar algum mais cedo ou mais tarde, certo?
- Sim - disse eu.
E lá fomos nós. Entrei em um carro comum (novamente, bobagem da minha parte...onde estava a plaquinha de "Táxi" em cima do carro?), e o motorista, muito falante e bem humorado, foi dirigindo. Me perguntou de onde eu era, para onde estava indo, aquele papo internacional de taxistas. Falei que era de São Paulo, descrevi a cidade, comparei o trânsito que via na rua com o de São Paulo... tudo isso enquanto tomava minha primeira lição de trânsito em Lima: é um caos. Os motoristas parecem ter uma ligação direta entre o acelerador e a buzina, que ficam tocando o tempo todo. Do chão a cidade me pareceu bem menos desoladora do que o quadro que vi lá do avião e até se parecia com algumas regiões mais planas de São Paulo. Fiquei também aliviado pelo fato de que o espanhol falado pelo motorista me soava bastante claro e que conseguia entender boa parte do que ele estava falando, e vice versa, de modo que a comunicação, aparentemente, não seria um problema. Foi então que, no meio da viagem, eu fiz a pergunta fatal.

- Quanto custa até Miraflores?
E o motorista, grande sorriso nos lábios, me disse tranquilamente:
- Quarenta dólares.

Como é?!? Ai ai ai... quarenta dólares? E o motorista começou com um papo de que ele trabalhava para um serviço "especial" do aeroporto, e puxou do bolso uma "tabela" que me deu, mostrando o valor da corrida, acrescentando orgulhoso que ele iria me dar um recibo pelo pagamento e assim por diante. Sentado ali, dentro do carro, em uma cidade que nunca havia posto os pés, cansado depois de cinco horas de viagem, tive que aceitar minha própria burrice e dizer adeus para 40 dólares logo na minha primeira experiência da viagem. Ao menos já estava "vacinado" e alerta. O motorista, ao saber que ainda iria procurar por um hotel, tentou me empurrar para um que cobrava 60 dólares por noite, o que recusei. Ele sugeriu outro de 50 dólares. Não, obrigado.

Enquanto isso, ele pegou uma avenida que seguia junto à praia, que me mostrou, sorridente. Para quem é do Brasil, confesso que o cenário estava longe das praias brasileiras. À esquerda do carro, barrancos enormes. À direita, um mar cinza escuro ia dar em uma praia pedregosa. O morotista pegou uma esquerda, subiu o "barranco" e me apontou uma região com ruas largas e grandes prédios.
- Miraflores - disse ele.
Sim, depois eu descobri que era bonito, mas por enquanto ainda estava pensando nos meus 40 dólares, e em quanto essa viagem iria custar. O motorista me disse que o bairro era muito seguro e me apontou os policiais nas esquinas. Os prédios eram todos residenciais, disse ele, e era um bom lugar para ficar. Finalmente ele fez uma rotatória e parou em frente à uma casa branca, de esquina. Era um hostel (chamado "Nomade", foto acima), e ele foi perguntar se havia vagas. Desci do carro e entrei na casa.

Um rapaz estava na recepção, e queria me cobrar 35 dólares por um quarto privativo (confesso que estava com receio de pegar um quarto compartilhado). Subimos até o terceiro e último andar e olhei o quarto. Uma cama, uma estante com uma TV, uma mesa, banheiro, chuveiro... ok. Mas era hora de negociar. Após muita conversa acabou ficando por 50 dólares por duas noites. Ainda era meu primeiro dia de viagem, e não sabia que, comparativamente, ainda era bastante "caro". Ainda tentei negociar com o motorista do táxi que, teimoso (e provavelmente querendo receber uma comissão do hostel), ainda me esperava lá embaixo. Paguei em dinheiro peruano o preço da corrida e ele ainda teve a cara de pau de deixar o número de celular dele, caso eu quisesse algum serviço de táxi pela cidade.

Peguei minhas coisas, a chave e subi para o quarto. Estava instalado.

Um comentário:

Ale disse...

João, que roubada esse lance do táxi do aeroporto! Espero que nossos relatos ajudem a quem vai visitar Lima, saber negociar antes. abs