quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Blog

Pessoal, juro que um dia volto a escrever por aqui. Saudade deste blog.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

cap 8: 8 de janeiro - Praia - Miraflores

De volta ao relato do blog!

Dia seguinte acordei umas seis da manhã. Não havia dormido direito, talvez pela agitação da viagem. Resolvi levantar da cama e ir à pé até a praia, distante algumas ruas do hostel. Câmera na bolsa, camiseta nova, sai para a rua e comecei a caminhar. Não estava frio, mas uma brisa fresca vinha da direção do mar. O céu estava branco e coberto. Seria prenúncio de chuva ou seria apenas uma névoa? Fui caminhando pelo canteiro central da José Pardo. De vez em quando havia uma rotatória grande, quase uma praça, no caminho. Em uma delas havia um chafariz no meio e uma série de mastros com bandeiras de vários países. Algumas outras pessoas caminhavam ou levavem o cachorro para passear.

Na noite anterior, após o passeio pelo centro histórico de Lima, a Plaza de Armas, o Parque da Muralha, a Basílica Menor de São Francisco e as catacumbas, ainda continuei meu passeio andando a esmo pela cidade. Meu objetivo, claro, era voltar para a Avenida Arequipa, com seu trânsito caótico, buzinas e ônibus com cobradores gritando o caminho por todo o trajeto. Felizmente eu tenho um bom senso de direção e consegui retraçar minha rota até a avenida, onde embarquei em outro ônibus para Miraflores. Estava cansado de andar mas satisfeito com o dia. Não havia esperado muito de Lima. Para mim era apenas o primeiro ponto de uma viagem que tinha como objetivo Machu Picchu. Mas uma coisa que aprendi na viagem, e que foi muito bom, é a velha máxima de que, geralmente, não é o objetivo que importa, mas o caminho em si. Lima podia ser barulhenta, poluída e "arcaica", mas era uma cidade vibrante e viva.

Cheguei em Miraflores perto das oito da noite. Desci perto daquela rotatória em frente ao McDonald´s, e só havia o esqueleto metálico daquela árvore de natal que havia visto de tarde. Na esquina da Arequipa com a José Pardo havia um shopping alto, uns seis andares, e resolvi entrar para dar uma olhada. Engraçado como, ao cruzar as portas para dentro da loja, sai de Lima para entrar naquela espécie de mundo paralelo que são os shoppings no mundo todo. As pessoas são diferentes, mas até o cheiro (uma mistura de couro, tecido, plástico e ar condicionado) é o mesmo. Se fechasse os olhos podia me imaginar de volta a algum shopping no Brasil. Era um lugar mais voltado à venda de roupas e calçados, em praticamente todos os andares. Confesso minha ignorância geral com relação a preços destes artigos no Brasil, mas soube que eles estavam relativamente baratos por lá. Havia também um andar destinado a aparelhos eletrônocos, celulares, televisões de tela plana, entre outras coisas, com preços que não muito diferentes dos daqui. Ao subir a última escada rolante, fui dar no estacionamento do shopping, onde descobri um fato interessante: ao contrário da grande maioria dos carros que havia visto nas ruas, em geral velhos, usados e de marcas orientais como Nissan e Toyota, os carros que encontrei no shopping eram mais sofisticados. Estava claramente em um lugar frequentado por uma população mais rica da cidade, com seus Mercedes, Renault, VW e GM.

Notei também esta diferença ao caminhar de volta ao hostel "Nômade" pela José Pardo. Miraflores é realmente outra cidade dentro da velha Lima. Nada de ruas estreitas, aglomerações e carros antigos. Ao chegar ao Nômade, tomei um banho (chuveiro quente, tudo certo) e troquei de roupa. Até pensei em voltar até o caminho todo até o Parque Centrale procurar algum restaurante ou barzinho, mas estava cansado. Pelo horário brasileiro já era mais de meia noite, então resolvi procurar algum lugar para comer ali por perto mesmo. Encontrei um restaurante na esquina da J. Pardo, na segunda rotatória em direção à praia. Comi um baby beef muito bom, com fritas, salada e uma Coca-Cola, pelo equivalente a uns 25 reais. Uma coisa que me surpreendi é que a conta veio exatamente com os valores corretos, sem "sacanagem". Digo isso porque, no Brasil, acho comum ter alguma surpresa desagradável ao receber a conta nos restaurantes. É alguma coisa que marcaram errado, ou então o preço exorbitante cobrado pelo refrigerante ou algo assim. Lá eu paguei extamente o que pedi e não havia sequer os 10% de gorjeta na conta. Não sei qual o costume por lá, mas deixei umas moedas e sai para a noite tranquila de Lima, de volta para o hostel. Cansado, fui direto para a cama, depois de uma "zapeada" pelos canais da TV (a cabo, sem programação local).
(por enquanto paro por aqui...prometo atulizar o mais breve possível)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

cap 7: Parque da Muralha - Catacumbas São Francisco - Lima

Há algo de estranho em se viajar de avião. Lá estava eu, andando pelas ruas do Centro Histórico de Lima, no Perú, e naquela mesma manhã havia acordado em Vinhedo, Estado de São Paulo, Brasil. É muito rápido e o corpo e a mente tentam compensar de alguma maneira. Para mim, o Brasil era "ontem". Fazia poucas horas que estava viajando de verdade mas já parecia que havia partido há muito tempo. O centro de Lima, com seus prédios baixos, estilo colonial, lembram muito algumas cidades históricas brasileiras. Não chega a parecer antigo como Paraty, por exemplo, mas as ruas me fizeram lembrar um pouco, talvez, Embu das Artes. Fui andando na direção geral daquele monte que havia visto da praça, alto, com uma cruz no topo e aquela bandeira pintada na lateral. Estaria longe? Será que dava pra subir?

Entrei pela rua lateral do Palácio do Governo e fui até o final, onde havia uma antiga estação de trem em reformas. Virando à direita, outra rua estreita, com prédios coloridos e sacadas. Ao fundo, as torres de uma outra igreja, de cor amarela. Fui chegando perto dela. Ela era cercada por um muro baixo, com grades, e havia um páteo e um prédio lateral em que estava escrito "Santuário Nossa Senhora de la Soledad". Um homem com uma filmadora me chamou a atenção. Ele estava gravando um grupo de estudantes, todas garotas, que faziam pose e sorriam para a câmera. Me lembrei dos meus tempos de câmera de casamentos e festas. Fiquei tentado a conhecer a igreja, mas, à esquerda, lá longe, a montanha me chamava, e fui em sua direção. Fui seguindo até o final da rua e havia um muro de pedra com os dizeres "Parque de La Muralha".

Era um jardim, na verdade, e havia alguns casais namorando e estudantes passeando. Ao longe, o tal monte se revelou finalmente. Havia centenas de casas coloridas em sua lateral, subindo quase até a metade de sua altura. Era uma vista bastante bonita. Perguntei a um guarda que montanha era aquela e ele, de modo um pouco grosseiro, me disse que não sabia. Dia seguinte eu descobriria se tratar do "Cerro San Cristóbal" mas, por enquanto, ainda era um enigma no horizonte. O calor em Lima era quase insuportável, e confesso que não estava esperando por isso. Comprei uma garrafa de água em um pequeno restaurante que havia no parque e fui ver o resto do lugar. A tal "muralha" do nome do parque tinha a ver com umas escavações arqueológicas que havia no local. O parque era uma curiosa mistura entre local de diversão para crianças (havia alguns brinquedos infláveis montados, como pula-pula e cama elástica, além de um "trenzinho" que levava crianças para uma volta) e sítio arqueológico. Havia restos de casas do século XVII e trechos de uma antiga muralha. Parque de La MuralhaEra um lugar interessante, mas nada de muito excepcional. Tirei várias fotografias do Cerro San Cristóbal, ainda tentando imaginar um meio de subir até o topo, mas não encontrei nada por ali. Resolvi então voltar por onde vim e visitar a tal igreja amarela. Chegando lá descobri se tratar da Igreja e Convento São Francisco. Me lembrei do trajeto do ônibus turístico que havia visto lá em Miraflores, que falava sobre umas "catacumbas de São Francisco", seria aqui? Passei pelo páteo que estava coberto por centenas de pombas. Já havia visto muitas pombas na Plaza de Armas, mas aqui havia realmente centenas delas. Por que tantas?


À esquerda da igreja estava o Convento São Francisco, e era possível visitar o local (pagando uma taxa de cinco sóles). Recomendo muito a visita. Infelizmente, era proibido tirar fotos do interior do convento e das catacumbas. Entrei e havia algumas pessoas esperando, mas uma mulher me perguntou se eu entendia inglês e, como disse que sim, ela me encaminhou para um grupo de turistas que havia acabado de sair com um guia. Inglês eu falo, mas confesso que o inglês do guia tinha um sotaque tão carregado que era complicado entender o que ele dizia. O grupo de turistas era formado pelos primeiros ingleses que eu via na viagem (e veria vários depois). O convento era muito bonito, com aquele tradicional páteo interno cercado pelo prédio de dois andares. Visitamos uma sala que continha vários quadros à óleo com motivos religiosos, inclusive um quadro da Santa Ceia que mostrava uma mesa circular, ao contrário do famoso quadro de Leonardo DaVinci. O convento foi construído no século XVII e, segundo o guia, era maior do que o prédio atual. Por todos os lados se viam marcas do barroco e da influência árabe, principalmente nos tetos ricamente decorados. Visitamos também a biblioteca, que continha alguns livros enormes, que foram restaurados e estavam em exposição. A luz natural iluminava o local através de janelas no teto. No grupo havia uma senhora inglesa que, bravamente, ia acompanhando o grupo e, no início, o guia até a esperava, mas aos poucos ele começou a ir mais rápido e a coitada da senhora foi ficando para trás, acompanhada da filha. E então chegou a hora das catacumbas. Me lembrei na hora da minha mãe, claustrofóbica convicta, que chegou a ir a Roma mas não desceu nas catacumbas de lá. Também tenho meu lado claustrofóbico, mas meu outro lado, o de Indiana Jones, falou mais forte e fui descendo com todos pelas tais catacumbas. O guia explicou que elas foram abertas e limpas em 1947. Era uma série de corredores e galerias por debaixo de todo o complexo do convento, e havia esqueletos em vários lugares. O guia disse para prestarmos atenção ao fato de que havia muito mais crânios e ossos grandes, como o fêmur, para serem vistos. Isso se deve ao fato de que os corpos eram depositados ali e cobertos com cal, que dissolvia o corpo e os ossos mais fracos. As catacumbas eram um cemitério, na verdade, e serviram para este fim até o século XIX, quando cemitérios foram inaugurados na cidade. Em alguns corredores se podia ver, através de aberturas no teto, a igreja lá em cima. Eu não tive problemas com as dezenas de crânios que havia por lá. O guia explicou que a disposição dos ossos foi deixada assim pelos arqueólogos e, de fato, havia uma certa "arte" no modo como os ossos foram empilhados; os crânios em um fosso, por exemplo, estavam todos organizados em forma circular.

Saí das catacumbas e do museu às 16:30 da tarde. Gostei muito do passeio e, lá fora, estava uma tarde muito bonita. Descobri então a razão das centenas de pombas na praça: havia umas senhoras vendendo milho em saquinhos para as crianças (e alguns adultos), que se divertiam alimentando os pássaros. O que por aqui geralmente é tratado como um problema de saúde pública, lá é incentivado. Sem dúvida os pombos são portadores de piolhos e algumas doenças, fora a sujeita que causam. Mas, sentado nos degraus em frente à Igreja São Francisco, olhando as crianças correr atrás dos pombos, achei tudo muito bonito. De vez em quando, como que atendendo um sinal coletivo, todas as pombas alçavam voo e comecavam um movimento circular pelo páteo do convento, em rasantes cada vez mais próximas.

Dentro da igreja havia um magnífico altar a São Judas Tadeu, todo de prata. Havia também uma placa comemorativa dizendo que o Papa João XXIII, em 1963, havia elevado a igreja à categoria de Basílica Menor de Lima. Sem dúvida, havia valido o dia.

ps: sim, oficialmente é proibido fotografar as catacumbas, mas no Google você pode ver várias fotos do local.












São Judas Tadeu


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

cap 6: Centro Histórico parte 2 - Lima

O Centro Histórico de Lima foi considerado pela Unesco como Patrimônico Cultural da Humanidade em 1988. De acordo com a Wikipedia, a cidade foi fundada em 18 de janeiro de 1535 pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro. O Centro Histórico é formado pela "Plaza de Armas", a Catedral de Lima, o Palácio do Governo e uma série de outros prédios e lugares circundantes. Havia uma "eletricidade" interessante no ar, uma mistura de antiguidade e tradição com modernidade que me pareceu interessante. Mas não era uma modernidade "século XXI". Os ônibus antigos, os táxis e os prédios davam à paisagem um ar ainda de século XX, uma sensação de "deja vú" engraçada.

Em alguns prédios há umas sacadas muito interessantes nas janelas. Elas são de madeira e fechadas como uma caixa, parecendo por vezes um vagão de trêm pendurado para fora da casa. Segundo escutei de um guia no dia seguinte (aguardem a história), estas sacadas eram feitas deste jeito para que as "senhoras" peruanas de antigamente pudessem ver sem serem vistas.


Fui andando pela Plaza de Armas, obervando e tirando fotos. Me chamou a atenção um carro blindado do exército parado ao lado do Palácio de Governo...será que estaria havendo algum problema político? Pelo que vi depois, não. É bastante comum em Lima se ver soldados do exército fazendo vigia em pontos tão estranhos quanto a reforma de uma rua, por exemplo. As portas da Catedral estavam fechadas, a não ser que aquela porta ali à esquerda fosse a entrada? Atravessei a rua e fui até a grande porta de madeira. Um senhor de cabelos brancos estava parado à porta, como que mantendo guarda. Entrei.

O interior da Catedral era bonito, mas bem menos rebuscado do que outras igrejas que vi depois. Uma missa estava sendo celebrada naquele momento, mas apenas uma meia dúzia de senhoras estava assistindo. Fui caminhando e escutando a celebração em espanhol que, do que me lembro dos tempos de criança, era exatamente igual às missas aqui no Brasil. As senhoras começaram a cantar uma música cuja melodia também já havia escutado em igrejas brasileiras. O altar era dourado, mas simples. A luz do sol entrava por uma alta cúpula. Resolvi sair e continuar minha exploração.
Voltei a atravessar a praça e fui ver mais de perto o Palácio do Governo, originalmente a casa de Francisco Pizarro, hoje residência oficial do Presidente Alan García. Sob um calor de mais de 30 graus, soldados fardados guardavam a porta do Palácio. Boa sorte para eles.

Um monte alto havia chamado minha atenção quando estava na praça. Entre o Palácio do Governo e a Catedral de Lima havia uma rua estreita, com prédios baixos e coloridos. Por trás deles eu podia ver um monte (ou montanha?) com uma cruz no alto e, pintada na lateral, em branco e vermelho, havia uma grande bandeira do Perú. Que lugar seria aquele? Eu não posso ver uma torre ou um mirante que tenho vontade de subir para poder apreciar a paisagem do alto, então fui andando em direção ao tal monte.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

cap 5: 7 de janeiro - Centro Histórico - Lima

"TODA AREQUIPA! TODA AREQUIPA! TODA AREQUIPA!", gritava, a todos pulmões, o cobrador do ônibus. Em Lima os ônibus parecem peças de museu, correndo pelas ruas para cima e para baixo com suas cores fortes, seus motoristas malucos e cobradores que ficam em pé, na porta, gritando o itinerário e praticamente puxando os passageiros para dentro. Parece as lotações que, ultimamente, se tornaram comuns nas grandes cidades brasileiras. "Arequipa", que o cobrador gritava sem parar, é o nome da grande avenida em que estávamos, a caminho do centro da cidade. Eu, na cara e na coragem, dispensei o ônibus turístico e os táxis e resolvi conhecer a cidade com o "povão", nos ônibus de linha mesmo. Passei o endereço que ia (Rua Emancipación), me sentei, cruzei os dedos, esperando que estivesse indo para o lugar certo. Mas, sinceramente, a viagem estava tão divertida e "exótica" que já estava valendo a pena.
Como já disse, mas repito, o trânsito era absolutamente maluco. Os motoristas de ônibus ficam disputando quem chega primeiro no próximo ponto, ficam em fila dupla, buzinam, reclamam, xingam, tudo isso enquanto o cobrador fica controlando a porta, a cobrança dos bilhetes e gritando o destino. De vez em quando eu dava uma olhada para o cobrador, que respondia: "Falta, falta!", e algo que deveria querer dizer "te aviso quando tiver que descer". Enquanto isso eu ia olhando a paisagem, o povo nas calçadas, alunos saindo da escola, lojas, igrejas, vários parques. Lá pelas tantas entrou um pedinte, com exatamente o mesmo discurso que já havia escutado de tantos aqui no Brasil, dizendo que tem que comprar algum remédio, a situação está difícil e eles precisam de uma contribuição voluntária dos passageiros. Os carros nas ruas, estranhamente, pareciam todos ter passado um pouco da data de validade e, salvo poucas excessões, eram de marcas japonesas como Toyota ou Nissan.
Finalmente, depois de uns vinte minutos chacoalhando no ônibus, sob o olhar dos outros passageiros (era o único turista a "bordo", sem dúvida), o cobrador me fez um sinal, me apontou uma rua e disse "Emancipación!". Soltei um "gracias!" e lá fui eu. Parecia que estava em algum campo de batalha. A avenida estava em reforma, com grandes montes de terra no meio da rua, e os pedestres se espremiam em uma calçada estreita. Seria este o "centro histórico" de Lima? Fui andando por entre as pessoas, passando por um monte de pequenas lojas que vendiam de tudo, sapatos, relógios, materiais eletrônicos... me senti na própria 25 de março, em São Paulo. Havia um guarda em uma esquina, na frente de um Banco, e perguntei sobre o Centro Histórico. Ele respondeu "Sim, sim...é aqui". Quando já estava para me desesperar, ele apontou para uma rua e disse que a "praça" ficava naquela direção. Menos mal, lá fui eu na direção indicada. Cheguei então à "Plaza de Armas" de Lima. O nome "plaza de armas" é usado para designar a praça principal das cidades, onde geralmente fica a igreja principal e os prédios do governo. Cheguei a uma praça grande, cercada por ruas largas por onde os carros circulavam antes de mergulhar novamente nas ruas estreitas ao redor. Para chegar à praça, passei por duas grandes construções imponentes, de cor amarela, da prefeitura de Lima. A praça em si tinha um chafariz no meio, palmeiras, vários canteiros floridos e a decoração do Natal, que ainda não havia sido retirada. À minha frente, a grande Catedral de Lima. À esquerda, o Palácio do Governo. A Catedral tem duas torres altas, pintadas de cinza claro, e me pareceram ter sido restauradas recentemente. Entre as torres, a fachada da igreja aparentava mais idade, com três grandes portas de madeira. Os relógios marcavam duas e meia da tarde.



(continua)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

cap 4: 7 de janeiro - Miraflores - Lima - Perú

Pois é, após ter sido "assaltado" pelo taxista e me instalado no hostel "Nômade Backbackers", na esquina da "Torre Tagle" com a rotatória, resolvi ir explorar Lima. Como quase tudo nesta viagem, não tinha um roteiro muito definido. Parei na recepção do Nômade para explorar uns panfletos e uns mapinhas que havia por lá e o recepcionista perguntou para onde eu queria ir. "Para o centro histórico", chutei eu. E, velhaco com a história do táxi (que, na verdade, são bem baratos em Lima), perguntei se tinha como ir de ônibus. O rapaz disse que o ônibus custava apenas 1,50 sol e que deveria seguir a "José Pardo" até um McDonald´s, onde encontraria outra rotatória. Ali deveria pegar um "bus" até a "Emancipacion". A "José Pardo" é a avenida da foto. Muito bonita, com ruas largas e uma "ilha" arborizada no meio onde os pedestres podem caminhar. Eram nove quadras até o tal McDonald´s, mas eu gosto de andar e era um bom modo de sentir o "clima" do lugar.

O bairro de Miraflores é bonito e bem diferente do resto da cidade, que é muito mais pobre. Fui andando pela J. Pardo e me lembrou um pouco o Bairro Cambuí, região nobre de Campinas, ou mesmo algumas regiões de São Paulo. Prédios altos, geralmente residenciais, entrecortados por outros comerciais e lojas. Passei em frente a um supermercado grande, o "Vivanda", onde depois iria fazer compras, e pelo prédio da Embaixada do Brasil. Havia uma quandidade razoável de pessoas andando pelas ruas e, apesar do rosto marcadamente indígena da maioria, eu poderia perfeitamente achar que estava em alguma cidade grande brasileira. O calor era forte, por volta dos 30 graus. Passei por uma loja da LAN Airlines e tomei nota mentalmente. Talvez eu precisasse comprar uma passagem para Cusco, caso decidisse ir para lá de avião.

Andando com meu passo normalmente rápido, em uns 15 minutos cheguei à tal rotatória, com o McDonald´s na esquina. Ali o trânsito era intenso, embora não estivesse parado, e foi (além da corrida de táxi do aeroporto), minha apresentação à loucura do trânsito da cidade. Os ônibus me chamaram logo a atenção. Pareciam (e provavelmente eram) do século passado. Muito coloridos, com várias faixas nas cores primárias. Na lateral, vários nomes pintados à mão que, descobri depois, eram os nomes das ruas por onde o ônibus iria trafegar. E todo mundo buzinando constantemente.


Na rotatória, funcionários da prefeitura tiravam os enfeites de uma grande árvore de natal. Resolvi explorar as imediações. Além do McDonald´s, havia várias outras franquias internacionais de comida por lá. Fui virando a esquina, à direita, e encontrei vários restaurantes, com muita gente sentada às mesas de frente para a calçada. Já eram por volta das 13 horas (quatro da tarde no Brasil) e eu ainda não havia almoçado. Até olhei alguns cardápios expostos nos restaurantes, mas não tinha ainda noção de quanto valia o dinheiro local. Um prato de 30 sóles era caro ou barato? Ai resolvi usar a cotação internacional do Big Mac. E confesso que, apesar de sentir certa vergonha por não experimentar logo a comida local, resolvi ir pelo caminho seguro e entrei no McDonald´s, onde pedi o mesmo que sempre como no Brasil, versão peruana: um "Cuarto de Libra com Queso", Coca-Cola e fritas. Lamentável, reconheço, mas a fome bateu mais forte. O preço do "combo" foi de 10,50 sóles (equivalente a três dólares e pouco, mais barato do que no Brasil). E é impressionante como o McDonald´s é praticamente igual no mundo todo (já fui nos EUA, Japão, Tailândia e Argentina).


Saindo do Mac, com a fome saciada (ou aquela sensação de estômago cheio que o fast food proporciona) fui até uma grande praça que é o "Parque Central de Miraflores". Era bonito, bastante verde, com canteiros coloridos de flores. Ao fundo, havia a primeira das dezenas de igrejas que veria nesta viagem: a "Iglesia Medalha Milagrosa", que estava fechada. Aliás, isso seria uma constante também na viagem, não sei como funcionam os horários das igrejas no Perú. Ao lado da igreja há o "Parque Kennedy", onde se encontram vários hostels bons para se hospedar, e vi estacionado um grande ônibus turístico vermelho, daqueles em que o andar de cima é aberto, com poltronas para os turistas observarem a cidade. Fui até uma cabine onde se vendiam bilhetes e soube que havia um passeio de três horas pela cidade, incluindo visita a umas tais "catacumbas de São Francisco". Mas não estava com vontade de fazer programa de turista. Queria explorar a cidade por conta própria e, na cara e na coragem, fui até a avenida para pegar um ônibus comum para o Centro Histórico de Lima.
(até o próximo capítulo...)


domingo, 1 de fevereiro de 2009

cap 3: 7 de janeiro - Lima - Peru


Pés no chão, depois de cinco horas de viagem de avião de São Paulo, tratei de ir trocar dólares por dinheiro peruano. Antes, logo ao descer do avião, tive que preencher um formulário de entrada no país e passar pela imigração e alfândega. Este seria o verdadeiro teste da questão do passaporte: ele seria necessário ou o RG só serviria? Ao preencher o formulário de entrada já fiquei bem tranquilo, pois havia até uma opção para marcar se você estava viajando com passaporte ou carteira de identidade. Um senhor me atendeu, pegou meu RG, preencheu um papel e me disse:
"Este papel você não pode perder, cuide muito bem dele!". Era a prova de que minha entrada no país havia sido legal. Eu sou terrível para guardar papéis (como veremos em um capítulo mais para frente), então o guardei junto do dinheiro, na carteira. Falando em dinheiro, ainda no aeroporto troquei 400 dólares por "Soles" peruanos. A cotação estava em aproximadamente 3 sóles para cada dólar, o que significa que tinha mil e duzentos sóles no bolso ao sair para o sagão do aeroporto.
E agora? Eu até havia feito uma reserva por e-mail em um hostel que vi em um fórum de mochileiros do orkut, e eles haviam me prometido, também por e-mail, que um táxi estaria me esperando no aeroporto. Havia vários motoristas segurando plaquinhas com nomes de hotéis e de passageiros, mas não vi meu nome, nem do hostel, em lugar algum. Eram 11:26 da manhã, e decidi procurar um outro hotel na "raça". Não conhecia absolutamente nada em Lima, a não ser o nome do bairro "chique" da cidade: Miraflores. E foi então que cometi meu primeiro erro. No Perú, você NUNCA deve entrar em um táxi sem combinar o preço antes. A base de preço que eu tinha era que o hostel onde eu havia feito reserva iria me cobrar 15 dólares pelo serviço de táxi, então eu, ingenuamente, achei que qualquer um que eu pegasse por ali cobraria mais ou menos a mesma coisa. E mais, achei que se eu fosse até a rua e pegasse um diretamente lá fora seria mais barato e tranquilo do que seguir alguns dos motoristas que estavam caçando passageiros lá dentro do aeroporto. Confesso minha estupidez, e que sirva de lição para quem está lendo isso. O caso é que fui lá para a rua, lá fora do sagão do aeroporto, e vi um homem me fazendo sinal.

- Táxi, senhor? - ele perguntou.
Bom, eu tinha que pegar algum mais cedo ou mais tarde, certo?
- Sim - disse eu.
E lá fomos nós. Entrei em um carro comum (novamente, bobagem da minha parte...onde estava a plaquinha de "Táxi" em cima do carro?), e o motorista, muito falante e bem humorado, foi dirigindo. Me perguntou de onde eu era, para onde estava indo, aquele papo internacional de taxistas. Falei que era de São Paulo, descrevi a cidade, comparei o trânsito que via na rua com o de São Paulo... tudo isso enquanto tomava minha primeira lição de trânsito em Lima: é um caos. Os motoristas parecem ter uma ligação direta entre o acelerador e a buzina, que ficam tocando o tempo todo. Do chão a cidade me pareceu bem menos desoladora do que o quadro que vi lá do avião e até se parecia com algumas regiões mais planas de São Paulo. Fiquei também aliviado pelo fato de que o espanhol falado pelo motorista me soava bastante claro e que conseguia entender boa parte do que ele estava falando, e vice versa, de modo que a comunicação, aparentemente, não seria um problema. Foi então que, no meio da viagem, eu fiz a pergunta fatal.

- Quanto custa até Miraflores?
E o motorista, grande sorriso nos lábios, me disse tranquilamente:
- Quarenta dólares.

Como é?!? Ai ai ai... quarenta dólares? E o motorista começou com um papo de que ele trabalhava para um serviço "especial" do aeroporto, e puxou do bolso uma "tabela" que me deu, mostrando o valor da corrida, acrescentando orgulhoso que ele iria me dar um recibo pelo pagamento e assim por diante. Sentado ali, dentro do carro, em uma cidade que nunca havia posto os pés, cansado depois de cinco horas de viagem, tive que aceitar minha própria burrice e dizer adeus para 40 dólares logo na minha primeira experiência da viagem. Ao menos já estava "vacinado" e alerta. O motorista, ao saber que ainda iria procurar por um hotel, tentou me empurrar para um que cobrava 60 dólares por noite, o que recusei. Ele sugeriu outro de 50 dólares. Não, obrigado.

Enquanto isso, ele pegou uma avenida que seguia junto à praia, que me mostrou, sorridente. Para quem é do Brasil, confesso que o cenário estava longe das praias brasileiras. À esquerda do carro, barrancos enormes. À direita, um mar cinza escuro ia dar em uma praia pedregosa. O morotista pegou uma esquerda, subiu o "barranco" e me apontou uma região com ruas largas e grandes prédios.
- Miraflores - disse ele.
Sim, depois eu descobri que era bonito, mas por enquanto ainda estava pensando nos meus 40 dólares, e em quanto essa viagem iria custar. O motorista me disse que o bairro era muito seguro e me apontou os policiais nas esquinas. Os prédios eram todos residenciais, disse ele, e era um bom lugar para ficar. Finalmente ele fez uma rotatória e parou em frente à uma casa branca, de esquina. Era um hostel (chamado "Nomade", foto acima), e ele foi perguntar se havia vagas. Desci do carro e entrei na casa.

Um rapaz estava na recepção, e queria me cobrar 35 dólares por um quarto privativo (confesso que estava com receio de pegar um quarto compartilhado). Subimos até o terceiro e último andar e olhei o quarto. Uma cama, uma estante com uma TV, uma mesa, banheiro, chuveiro... ok. Mas era hora de negociar. Após muita conversa acabou ficando por 50 dólares por duas noites. Ainda era meu primeiro dia de viagem, e não sabia que, comparativamente, ainda era bastante "caro". Ainda tentei negociar com o motorista do táxi que, teimoso (e provavelmente querendo receber uma comissão do hostel), ainda me esperava lá embaixo. Paguei em dinheiro peruano o preço da corrida e ele ainda teve a cara de pau de deixar o número de celular dele, caso eu quisesse algum serviço de táxi pela cidade.

Peguei minhas coisas, a chave e subi para o quarto. Estava instalado.